Horta mandala com a criação de galinhas livres

No início da quarentena, fomos procurados por um casal que vive em um sítio em Gonçalves-MG na Serra da Mantiqueira. Eles gostariam de viver sem depender de ir para o centro da pequena cidade rural para fazer compras de alimentos essenciais como hortaliças e ovos. Foi aí que tiveram a ideia de pedir uma assessoria técnica para construírem uma horta mandala integrada com a criação de galinhas caipiras e agroecológicas. O mais curioso nesse trabalho foi que tivemos que fazer isso à distância e ficou lindo! Todo sucesso do projeto só foi possível pela persistência do casal Lúcia e Manoel em tirar ele do papel.  

Entrevistamos o Manoel, perguntamos porque ele tomou essa iniciativa? Ele respondeu assim: “ porque não transformar minha morada em um lugar produtivo? Eu acredito que o mundo antes da pandemia era um e ele morreu. E daqui pra frente temos que nos adaptar e buscar a autosuficiência do sistema capitalista. Sou um privilegiado de ter uma terra num lugar belíssimo, com água limpa e de poder contar com a consultoria da Marccella Berte (tecnóloga em Agroecologia, do Futuro com Floresta)”.

A área da mandala tem aproximadamente 200 m² com canteiros circulares e ao centro fica o galinheiro. As pedras que deram forma e beleza era um recurso abundante no local. E antes de colocar terra e esterco foram utilizados resíduos de papelão para bloquear o sol e impedir a rebrota do capim que estava na área antes da construção da mandala.

O consórcio das plantas nos canteiros respeita os princípios de da Agroecologia, como a rotação de culturas e o benefício ou o antagonismo entre plantas plantadas em companhia uma da outra. Além de algumas plantas medicinais para repelir insetos, evitou-se consorciar plantas da mesma família, esssa é uma estratégia essencial, pois podem ser susceptíveis às mesmas doenças e ataques de insetos. Além disso, o uso no amendoim forrageiro como cobertura verde é interessante pelo papel que as leguminosas possuem de estabelecerem simbiose com bactérias formadoras de risóbium contribuindo para aumentar a disponibilidade de nitrogênio para as plantas e de porte baixo não atrapalhando a incidência do sol.  

O sistema de irrigação será por gotejamento! A Serra da Mantiqueira é conhecida na língua tupi-guarani, como “serra que chora”, são 165 dias chuvosos na região e um solo médio, nem tão argiloso e nem tão arenoso. Mesmo assim, serão necessários cerca de 99 mil litros d’água, a mais, para irrigar essa mandala ao longo de um ano, para produzir um conjunto variado de hortaliças e outros alimentos para toda a família. Manoel já sabe, é importante cobrir o solo e olhar se está úmido antes de irrigar, procurando sempre o uso mais racional da água possível. A água é um bem comum e a agricultura representa 70% do consumo de água doce no planeta.

A integração com o galinheiro faz com que o esterco esteja sempre próximo aos canteiros e as galinhas ajudam a revirar, por instinto natural, misturando-o para produzir o composto com os resíduos oriundos das capinas e folhas secas. Para as 6 aves poedeiras, além dessa área central na mandala, um galinheiro de 3m², o projeto conta com uma área de 100m² dividida em 6 piquetes para as galinhas serem criadas com acesso ao pasto, livres de gaiolas. Esse sistema é mais saudável para as aves.

As galinhas acessam essa área de pastagem por meio de um túnel. Tendo acesso assim a alimentação alternativa à ração, dentro dos princípios do bem-estar animal e realizando a rotação do uso dos piquetes, a técnica permite a regeneração da forrageira e previne o desgaste da cobertura do solo evitando a erosão, uma vez que a área possui um bom declive.

Para fazer sua própria ração Manoel sabe que pode usar em 35%, a parte aérea da mandioca que é rica em proteína e 35% de folhas de amora, uma espécie e ocorre e se adapta bem na região do seu sítio e que estimula a postura de ovos. O milho produzido ao longo dos períodos de chuvas e de calor na Mantiqueira entra na formulação com apenas 10%. E com isso é possível produzir o milho orgânico também para a alimentação da família e fazer uma boa polenta quentinha para segurar o frio no inverno da Serra.

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